... Sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz
apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada (...)
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que
procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa
pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros.
Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando
“realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque
felicidade é calma. Consciência. Felicidade é ter talento para aturar, é
divertir-se com o imprevisto, transformar as zebras em piadas,
assombrar-se positivamente consigo próprio: como é que eu me meti nessa,
como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de
se estar vivo. Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se
cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por
terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se
punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se
quiser ser mestre em alguma coisa, tente ser mestre em esquecer de você
mesmo. Liberte-se de tanto pensamento, de tanta procura por adequação e
liberdade. Ser uma pessoa adequada e livre – simultaneamente – é uma
senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir
tanto? É tempo esgotado para o questionário de Proust, essa mania de ter
que responder quais são seus defeitos, suas qualidades, sua cor
preferida. Chega de se autoconhecer! Você já está aqui, já tem seu
jeito, já carimbou seu estilo e assumiu que é um imperfeito bem
intencionado. Feliz por nada talvez seja isso.
Martha Medeiros
Feliz por nada... e que sejamos gratos por tudo, sempre! Dia abençoado pra todos nós, Anny
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