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připojena: 12.11.2008
O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver. (Sigmund Freud )
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O que você pode aprender com a solidão

por Marcos Bueno*

Solidão é a arte do encontro com o vazio existencial. Esse vazio tem duplo sentido. Um é o da existência, da busca de um significado metafísico; o outro é o da ausência, da perda de algo importante. A liberdade é uma descoberta solitária e por isso muitos tentam evitá-la. A solidão é um sentimento que gera angústia e que nos coloca diante de um portal em um mundo interior onde a chave é o sentido do mundo, o porquê das coisas, as perguntas que fazemos e para as quais não encontramos respostas. A solidão também pode ser uma experiência de transcendência. Em seu livro sobre a Escola da Ponte, de Portugal, o escritor Rubem Alves cita que os mestres zen não pretendiam ensinar coisa alguma na forma como entendemos na educação ocidental. O que desejavam era levar seus discípulos a “desaprender” o que sabiam, a ficar livres de qualquer filosofia. Talvez precisemos também desaprender e permitir despertar a lucidez na solidão. Tudo na vida é um processo de nível de aprendizado, isto é, do interior para o exterior. O psiquiatra Viktor Frankl, criador da logoterapia, ou a terapia do sentido existencial, da esperança, desenvolveu esse método de tratamento nos porões do holocausto nazista em meio à dor, ao sofrimento, à solidão e à morte. A solidão, assim como a doença, pode ser um caminho amadurecido para uma vida melhor. É preciso termos a coragem de aprender com ela e não apenas rejeitá-la. Rejeitar nossa solidão é o mesmo que rejeitar nossos defeitos, nossas misérias humanas. É como se não falássemos em doença e a doença deixasse de existir. Há pessoas que fazem de tudo para evitar falar sobre a solidão, sobre a doença, sobre as misérias humanas. No fundo, é apenas uma tentativa de se evitar o contato com a realidade. O que é solidão? O psicólogo existencial Jadir Lessa cita o seguinte: “O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma em Ser e Tempo que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência. O homem se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. E se torna inautêntico quando interpreta a solidão como abandono, como uma espécie de desconsideração de Deus ou da vida em relação a ele. Com isso abre mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Permanece na vida sendo um coadjuvante em sua própria história.” O ser autêntico é aquele que responde pela sua vida, o ator principal, o arquiteto de sua própria obra-prima, de sua vida. O psicoterapeuta Flávio Gikovate cita que a solidão é boa, que ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são como ficar sozinho: ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo. Dedique um breve instante a fechar os olhos, abrir seu coração e sentir todo o amor que vem de dentro dele, no seu silêncio natural e saudável. Cuide de você. 


ENTRANDO EM SINTONIA

Durante minha busca, entre milhares de textos que falam sobre felicidade, realização, amor, dinheiro, iluminação espiritual e outros assuntos correlatos, uma palavra sempre me chama atenção: VIBRAÇÃO.

Tudo possui uma determinada freqüência de vibração, inclusive nossos pensamentos e emoções. Nossa realidade é um aglomerado de átomos vibrando em diferentes freqüências e formas, diferindo apenas em suas configurações energéticas.

Mas o que isso tem a ver conosco? Qual é a relevância desta informação?

Conhecer que tudo vibra é importante porque nos dá o poder de usar essa informação para construir a realidade da maneira que desejamos. Saber que se uma determinada freqüência for alterada, a sua configuração, a forma que ela se apresenta também será, cria um mundo de infinitas possibilidades.

Imagine sua percepção da realidade, a maneira que o seu cérebro processa as informações recebidas pelos seus sentidos, como um rádio. Quando este rádio está sintonizado em determinada estação você ouve um tipo de música. Mude a estação e outro tipo de música será tocada. Não sintonize em nenhuma estação e só ouvirá ruído.

Nossa realidade é criada da mesma maneira, sempre em sintonia com a nossa vibração. Note que quando está se sentindo mal, todas as recordações que surgem em sua memória reforçam este sentimento. Você passa a relembrar os acontecimentos que despertaram essa mesma emoção e começa a acreditar que nada valeu à pena, que sua vida foi uma sucessão de acontecimentos desagradáveis que o levaram a esse estado atual de baixa vibração.

Agora, faça um esforço e relembre um acontecimento positivo. No começo pode parecer difícil, mas persista e notará que seu estado de humor começa a se modificar. Você começa a relembrar outros acontecimentos felizes e quando se dá conta, está se sentindo feliz e agradecido pela sua vida repleta de realizações.

Sua vida não mudou, seu passado também não, você apenas alterou a sua percepção quando decidiu focar nas partes positivas de suas experiências de vida. Alterou sua vibração e nessa sintonia começou a perceber o lado positivo dessas experiências.

Continue nesta vibração e criará seu futuro expandindo essa positividade. Mude o foco e o futuro será algo totalmente diferente.

A física quântica fala do conceito de “tempo vertical” , onde passado, presente e futuro não são tratados apenas no sentido linear. Segundo esse conceito, a cada segundo você têm a possibilidade de alterar o seu futuro mudando sua vibração. Faça um teste. Imagine o passado, presente e futuro como uma linha horizontal. Passado sendo o que está atrás, presente como o ponto onde se encontra e futuro o que está à frente. Agora, imagine que está sobre uma plataforma que funciona como um elevador. De acordo com sua vibração este elevador sobe ou desce verticalmente.

Aumente o numero de linhas horizontais, formando um conjunto de linhas acima e abaixo da linha de tempo imaginada, como se o mundo fosse um enorme arranha céu. (figura abaixo)

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Quando relembra o passado vibrando negativamente você desce e cria seu futuro naquela mesma direção. Quando sua vibração se torna mais positiva você sobe e seu futuro terá a configuração de outro andar. Em cada andar existe um mundo totalmente diferente do outro, outras pessoas, outros cenários, só o mundo é o mesmo. Nada mudou, você que começou a perceber aquilo que antes não conseguia ver pois estava acima ou abaixo de sua percepção. Ou seja, numa vibração diferente da sua.

Comece a perceber a vida como uma sucessão de estados de vibração e não aceite passivamente a realidade que se apresenta como algo estático e sólido . Acredite que você tem o poder de alterar o que vive alterando sua percepção. Entrando em sintonia com o que deseja isto se manifesta em sua vida de forma natural, não por mágica ou milagre, apenas porque você passa a perceber seu desejo em sintonia com a sua realidade.

Fonte: Jardim das realizações

http://www.jardimderealizacoes.com.br/artigos.htm


O Silêncio da Alma

A Minha alma tem vivido um silêncio mais acentuado do que tantos outros silêncios vivenciados por ela. Não me refiro ao silêncio causado pela falta de palavras de pessoas que estão à minha volta ou que fazem ou fizeram parte do meu relacionamento. Sem dúvida alguma, também esse silêncio incomoda, quando existe. E muito! Principalmente se parte das pessoas que amamos e das quais gostaríamos de sentir o abraço da palavra proferida, verbalmente ou por escrito.Entretanto, hoje estou referir-me a um silêncio que é, de certa forma, indescritível. Ou melhor: possivelmente, por mais que eu tente encontrar como descrevê-lo, dificilmente eu conseguiria fazer alguém entender o que ele representa, realmente, para mim, neste momento. Excepto, creio, para aqueles que possam estar a viver um momento semelhante a este e que também não sabem como descrevê-lo. E, diz o adágio, para bom entendedor, meia palavra basta, não é? Então vou tentar...   Pois bem, há muito, muito tempo, venho a somar experiências que, se de um lado me permitem a evolução espiritual que tanto quero e preciso, pois é este o motivo que nos traz à vida terrena, permitindo-me conhecer melhor a mim mesmo e ao ser humano que, infelizmente, pratica, cada vez mais, o egoísmo, a vaidade, a prepotência, o orgulho, a mesquinhez, a mentira, a imaturidade observada nos seus actos e no seu poder de comunicação (apesar da evolução, em todos os sentidos, que o próprio homem conquistou com a sua inteligência e sabedoria), por outro lado, ele vai-se instalando bem lá no fundo, como se quisesse me isolar, isolar o meu íntimo do contacto com o mundo exterior, com pessoas que são ou se tornaram “experts” na arte de magoar ou humilhar as outras, limitando-se ao seu egoísmo, ao seu exclusivo bem-estar, não se importando se, para tanto, é necessário praticar actos que a façam passar como tractor sobre o quê ou quem encontram pela frente. Óbvio que toda a regra tem excepção, mas creio que essas excepções têm passado longe de mim!   Se por um lado tudo isso me ajuda a evoluir como pessoa, como ser humano e também espiritualmente, pois tenho praticado e exercido a arte da paciência, do perdão, da compreensão, da perseverança, do reconhecimento às qualidades não expostas (ou expostas mas pouco depois mascaradas) dos seres, por outro lado tenho, também, praticado a arte do isolamento. Melhor dizendo, a arte do calar-se, do evitar expor os verdadeiros sentimentos, os pensamentos mais íntimos, o que, para mim, significa ausência de autenticidade. Também entendo isso como uma espécie de representação teatral, pois esse modo de apresentação ante outra pessoa é, para mim (repito), uma presença sem alma, sem sentimentos profundos, ainda que sinceros. Quando vemos um actor ao apresentar o seu personagem, parece-nos que ele vive, no seu interior, profundamente, aqueles sentimentos. Mas todos sabemos que isso nada mais é do que a entrega da alma ao personagem, que pode nada ter a ver com o actor. Não quero, com isso, dizer que tenho-me apresentado sem sentimentos, sem sinceridade, sem lealdade, sem alma, teatralizando, representando ou mentindo. Nunca! Isso nunca fiz e nunca faria!   Não sei se conseguem-me entender, mas o que quero expor aqui é que o facto de ter que manter um controle sobre o que sinto ou penso, não podendo gritá-los aos quatro cantos do mundo, até porque nem sussurrando e nem aos gritos eles seriam ouvidos ou compreendidos ou partilhados, me dá a sensação de que alguém me tira o direito de ser autêntico, de expor a minha alma da forma como ela é, como ela está no momento em que esse grito (ou sussurro) está a ser sufocado.   O melhor nisso tudo é a certeza de que, pensem o que quiserem ou optarem por pensar, sinto uma paz imensa, aquela que só pode existir quando somos fiéis e sinceros a nós mesmos em primeiro lugar e, aos outros, em seguida; aquela paz que só tem valor quando perdoamos com sinceridade, porque o perdão que damos é mil vezes mais importante e mais benéfico, além de mais puro, do que o perdão que recebemos; aquela paz que só é completa quando existe a certeza de que sempre fomos fiéis aos nossos sentimentos; aquela que só tem razão quando temos consciência de que nunca traímos quem amamos, qualquer que seja a forma de traição, dizer que nunca atribuímos a outros os nossos próprios erros, tampouco ouvindo e dando crédito a quem não conhecemos, em detrimento do crédito que deveríamos dar a quem nos ama e conhecemos profundamente, ou batendo em portas erradas para manifestar o nosso despeito, visando manchar a dignidade do outro; ou, ainda, negando os nossos sentimentos verdadeiros, qualquer que seja o motivo que nos leva a negá-los; ou buscar, em alguém, um aliado, visando denegrir (até para si mesmo) a imagem de alguém. A paz que traduz a leveza da consciência por sabermos que, em momento algum, negamos amizade, carinho, compreensão, convívio saudável, terno e honesto a quem quer que seja. Por termos a certeza de que a humildade nunca significou submissão ou concordância com actos e palavras que denotam a expectativa de alguém se apresentar superior a qualquer outro ser ou se julgar um deus ou o supra-sumo da inteligência, mormente ante aqueles que o estimam, o respeitam, o amam; a certeza de jamais termos nos omitido ou deixado de dar atenção a quem nos procurou ou se manteve ao nosso lado.
Não afirmaria, em hipótese alguma, que nunca errei. Claro que cometi erros crassos como todo ser humano. Mas nunca os atribuí, ou a sua responsabilidade, a ninguém! Pelo contrário, sempre os reconheci e me arrependi sinceramente, quando os detectei, de tê-los praticado. E o que nos faz crescer é exactamente isso: reconhecer os nossos erros, nos arrepender de tê-los cometidos e nos esforçarmos ilimitadamente para não mais cometê-los. Todavia, apesar dessa paz imensa que me eleva e eleva os meus pensamentos e agradecimentos ao meu verdadeiro amigo, é inevitável passar por tantos acontecimentos que, somados durante tanto tempo e que realmente me abalaram profundamente, sem sentir esse silêncio que paira. Um silêncio ensurdecedor que me leva as mãos aos ouvidos, na esperança de não mais ouvi-lo. Um silêncio que está dentro de mim e que não pode, não deve e não será exteriorizado porque no meu aprendizado, infelizmente, aprendi que, no geral, as pessoas querem que digamos apenas o que elas querem ouvir, sob pena de as perdermos para sempre. Para sempre? Claro que não! Ninguém cruza a nossa vida por acaso e, diante desta convicção, eu tenho certeza de que, num outro momento, as nossas vidas voltarão a se cruzar até que ambos tenham consciência de que não nos é possível caminhar através de estradas paralelas. Enquanto isso, cubro a cabeça com a minha almofada, tentando não ouvir os gritos desse silêncio ensurdecedor que me tira o sono!


Sobre o estudo das emoções

Como nos ensinou o V.M.S., o centro emocional é como um elefante louco, difícil de amansar. Um homem racional, como eu, talvez não o considere assim, mas tal idéia se deve somente a falta de contato consciente com as próprias emoções.
As pessoas muito racionais, polarizadas no intelecto, tendem a acreditar que não possuem muitas emoções/sentimentos ou que sua parte emocional não seja muito ativa. Ledo engano! Na verdade suas emoções se processam inconscientemente, às vezes de forma muito intensa. No nível consciente, elas realmente podem ser muito frias, calculistas e, aparentemente, equilibradas. Mas, fora do campo de alcance da consciência, elas podem ser altamente emotivas e até infantilizadas.
Emoções que se processam sem serem percebidas conscientemente tendem a causar grande estrago, uma vez que não são vistas e seus efeitos somente se fazem sentir quando em fase avançada. São como doenças que se processam na penumbra.
Um erro que pode ser cometido na morte do ego por algumas pessoas é fingir para si mesmo que não se tem emoções, que se é altamente equilibrado, sereno, e muito pouco sentimental. Isso acusa pouco contato consciente com as próprias emoções, isto é, negligência em observar o centro emocional.
Sabemos que temos cinco centros, entre os quais o centro emocional (o "elefante louco"). A observação deste centro não pode nunca ser negligenciada.
O estresse e a correria do dia a dia, os múltiplos compromissos, os traumas da existência, as dificuldades de relacionamento, os reveses amorosos, as dores da alma, as traições etc. atingem e desgastam diretamente este centro.
É importantíssimo conhecer o jogo de ações e reações do centro emocional, o que pode ser conseguido pela observação direta deste centro em ação a todo momento. Em casos extremos, em que os problemas emocionais se acumulam, ao invés de serem resolvidos, e se transformam em enfermidades, atingindo até o nível físico sob a forma de somatizações, se faz necessária a psico-análise ou psicoterapia, para restabelecimento do equilíbrio. A psicoterapia é o estudo dos egos sob a supervisão de um profissional. Nem sempre é bom e nem recomendável revelar nossas mazelas interiores para alguém, mas nos casos graves isso se faz necessário. Todavia, devemos lembrar que o trabalho interno é algo intimo e que as revelações de cunho esotérico não podem ser divulgadas a ninguém, nem mesmo ao terapeuta. Mas um profissional pode nos ajudar a ter um melhor contato com as próprias emoções e a analisar o nosso Eu sob parâmetros e critérios distintos daqueles nos quais estamos viciados.
Um dos grandes obstáculos ao autoconhecimento é o condicionamento do entendimento dentro de certos parâmetros, critérios e paradigmas. Novas perspectivas de análise podem nos dar novas descobertas. O que importa é descobrir o novo dentro de nós mesmos, descobrir aquilo que não sabíamos antes sobre os nossos egos (no caso, sobre nossas emoções).
Quando estamos em uma situação emocional realmente difícil, sofrendo horrivelmente, e não conseguimos penetrar em nossos sentimentos nem a golpes de martelo, a análise dos sonhos pode ajudar muito. Diz o V.M.R. que nos sonhos as Hierarquias e as partes superiores do Ser nos revelam o estado em que nos encontramos. Podemos, através dos sonhos, descobrir sentimentos/emoções que estão se processando sub/inconscientemente. A forma em que uma pessoa aparece em meus sonhos revela o que sinto por ela. Explorar os sonhos ajuda a explorar as emoções. Por isso o sonho lúcido/viagem astral é tão importante.
Entendo que as análises desses conteúdos se justificam somente nos casos piores. Nas demais situações, a simples observação receptiva dá conta do problema, sem necessidade de ficarmos quebrando a cabeça, raciocinando e nem pensando. A observação é direta e rápida, enquanto a análise é algo lento. Para mim, a análise do Eu deve ser empregada somente em casos graves, de difícil penetração e que requerem certa urgência. É algo complementar às praticas de auto-observacao, morte em marcha, concentração, meditação e desdobramento astral. E a análise com o auxilio de um terapeuta apenas se justifica quando a pessoa não é capaz de efetuá-la sozinha.
Penetrar o centro emocional com a observação me parece mais difícil do que penetrar os demais centros. A emoção é algo sutil, que escapa. Identificar pensamentos, movimentos, processos corporais instintivos e impulsos sexuais é algo relativamente fácil, em comparação à tarefa de identificar as emoções.
A todo momento as emoções estão se processando, o centro emocional está reagindo às situações e eventos, mas experimentemos tentar identificar as várias emoções que estão se processndo para vermos se é algo tão fácil como parece... O materialismo racionalista atrofiou nossas percepções sutis e fez com que o mundo das emoções nos parecesse algo vago.
Observar as emoções e como observar o vácuo ou como tentar enxergar o vapor com os olhos físicos. O sentido da auto-observação está atrofiado e o resultado é nossa imensa dificuldade em ver as emoções tal como são.
Quem enxerga as emoções com objetividade não necessita rotulá-las. Simplesmente as vê com os sentidos internos com tanta objetividade quanto enxergaria uma pedra com os olhos físicos e não necessita identificá-las por nomes, visto que apenas uma parte ínfima das emoções existentes foram nomeadas pelos seres humanos.
Reprimir as emoções, fazendo de conta que não se as possui (como fizemos nós, os estudantes gnosticos por muito tempo) é o pior dos negócios. Elas continuarão existindo e dinamitarão a pessoa interiormente. O melhor é não se auto-enganar, observá-las em ação, enxergando-as em detalhes. Como ensinou o V.M.R., nos detalhes está a chave. Temos que observar os detalhes das emoções.
Durante as relações sociais, as emoções afloram espontaneamente e podem ser perfeitamente observadas. À medida que vão sendo observadas em seus detalhes, pouco a pouco e ao longo do tempo, vão sendo compreendidas com profundidade crescente. E à medida que vão sendo compreendidas, podem ser eliminadas pela Mãe Divina, sem necessidade alguma de recalques ou mecanismos repressivos. Dissolver é muito melhor do que reprimir. Somente a Mãe Divina pode dissolver (eliminar, decapitar, matar) uma emoção negativa. Aqueles que não apelam à Mãe Divina e não realizam a auto-observação, terminam não tendo outra alternativa além da nefasta repressão, com todas as suas desastrosas conseqüências. Observem o eletroencefalograma de um sujeito reprimido e comprovem o que estou dizendo.
Gostaria também de atentar para outro erro muito comum: acreditar que o controle das emoções inferiores é sinônimo de morte do ego. Na verdade, o controle das emoções está condenado ao fracasso, é simplesmente algo impossível. Não podemos controlar as emoções, podemos, no máximo, reprimi-las e elas, então, irão explodir de uma ou outra forma, por outros canais. Podemos, também, observar, contemplá-las e pedir pela morte do defeito correspondente (isso sim é recomendável). A Mãe Divina tem todo o poder de matar o defeito e acabar com as emoções correspondentes. Ao invés de perdermos tempo nesciamente tentando controlar as emoções, é muito mais sensato observar o centro emocional e orar.
É claro que neste texto estou me referindo às emoções negativas do Ego. Não estou me referindo de modo algum às emoções superiores do Ser. Estamos falando dos centros inferiores da máquina, do centro emocional inferior.
O centro emocional inferior possui emoções negativas e positivas. Como existem "eus" bons e maus, resulta que ambas as modalidades de emoções necessitam ser observadas, compreendidas em seus detalhes, e dissolvidas para que a essência comece a manejar este centro.
Lembremos que o Ego é nossa própria pessoa, esta pessoa que tanto amamos e que nos é tão cara, e que observar as emoções é observar tudo o que nossa pessoa sente: "Que estou sentindo, diante disto que está me acontecendo agora?"
Busquemos os sentimentos pequenos, sutis. Neles está a chave para a compreensão do todo maior da emoção.
As emoções podem ser comparadas aos sabores dos alimentos. Cada emoção possui seu sabor, indefinível porém exato. Ninguém poderia descrever o sabor da água, no entanto a água possui seu sabor. O mesmo se passa com as emoções: seus sabores não são claramente definíveis, mas são exatos para a consciência. Identificar uma emoção é dar-se conta de seu sabor e não identificar seu nome. Quais são os sabores da ira, do medo, da inveja, da tristeza? Toda emoção possui seu sabor e também impelem para a realização de algo, para a satisfação do desejo correspondente. O medo origina o desejo de fugir, de evadir-se. A ira origina o desejo de destruir, trucidar, vingar-se. A cobiça origina o desejo de obter algo. Cada emoção, com seu sabor característico, sucita um impulso que clama por satisfação. Enquanto o impulso não é satisfeito, sente-se no coração uma sensação de falta, um vazio. Qual é o sabor do vazio que impele para satisfação da luxúria? E qual é o sabor da luxúria em si mesma? Tudo isso é sentido profundamente no centro emocional. A percepção do sabor das emoções é parte imprescindível do processo de conscientização. E a conscientização é parte do processo de dissolução. Temos que dissolver as emoções, assimilando-as ao invés de reprimi-las. Portanto, observemos o sabor das emoções e para que elas nos impelem.
Obrigado pela atenção e que Deus os guie sempre nesta jornada do autoconhecimento.

Fonte:

http://essenciagnostica.blogspot.com/2010/05/sobre-o-estudo-das-emocoes.html

 


A vocação da Amizade em nossas vidas - Lindo demais - compartilho essa minha leitura com todos os amigos aqui!

Fico feliz pela oportunidade de poder dedicar essas simples e despretensiosas palavras sobre a amizade, a arte de ter amigos. Sou um defensor da arte de escrever aos amigos ou aos que queremos comunicar algo que edifique e conduza a Deus. Sinto-me livre para manifestar aos que amo os meus sentimentos e a sabedoria simples daquilo que constituem o tesouro da amizade. “Escrever faz parte essencial da amizade. O amor que está em nós quer expressar-se. A carta é expressão duradoura da amizade. Hoje em dia, infelizmente, desaprendemos quase de todo escrever cartas. Mas a amizade precisa da carta, onde conto ao amigo o que me impulsiona para frente. Constantino Raudive disse: ‘As pessoas que nunca trocaram cartas não se conhecem’. As cartas de amizade constituem uma parte importante da literatura universal. Muitos gostam de ler essas cartas para ascultar o mistério da sua própria amizade e deixar inspirar-se por elas (Anselm Grun)”. 

 

A vida comunitária e os vínculos da caridade fraterna já nos despertam a consciência do fato real de sermos irmãos. Sentimos assim a necessidade de celebrar a vida dos que partilham conosco o viver vocacional, e que participam do grande mistério da comunhão e do amor de Deus. A caridade fraterna já nos faz pertencer um ao outro pela graça do carisma em nossas vidas. Esse estar junto é importante e necessário mais do que nunca, por causa da comunhão uns com os outros para a qual todos fomos criados, vindo a ser também o antídoto da solidão, do egoísmo e do individualismo que impera hoje entre as pessoas. “Na situação do homem moderno, o que é trágico, o que constitui o seu isolamento é a falta de diálogo, de comunicação espiritual com o outro” (Ignace Lepp). O homem está cada vez mais necessitado de viver junto. No entanto, não basta estar junto de qualquer forma, é preciso estar junto com um viver de qualidade. “Quem escolhe a vida consagrada decide viver com outros, seus semelhantes, numa comunidade. Como conseqüência, crescer na vida espiritual implica também crescer no modo de estar com os outros e apurar sempre mais o próprio estilo de comunicação (Giuseppe Colombero).”

 

A caridade fraterna nos faz comprometidos com o outro e portamos por esses laços uma dívida ao nosso irmão, em acolhê-lo e amá-lo na sua diferença e na sua maneira particular de ser. A caridade de Cristo nos fez um com ele e por isso já não carregamos mais o peso de termos o outro como inimigo. Nosso direito de progenitura não precisa mais ser vendido como fez Esaú com seu irmão Jacó (Cf: Gn 25,29-34), para sermos saciados com qualquer coisa, pois o corpo e o sangue de Cristo nos inseriram na comunhão do amor da Trindade. Cristo é o referencial de todo amor humano e não necessitamos mendigar o amor do mundo baseado unicamente no prazer. Cristo nos redimiu de todo pecado e também redimiu o amor que escravo estava dos prazeres carnais. Nossos irmãos e amigos participam desse amor redimido e dessa novidade da caridade. É a caridade fraterna que nos permite viver o dom da vida comunitária e consagrada. E aí, essa caridade fraterna guiada pela Providência de Deus nos faz perceber também aqueles com quem queremos partilhar mais de perto as nossas dores e alegrias, os nossos segredos, a vida de Deus que vai moldando a nossa. A esses nós chamamos de amigos, amados amigos!

 

Cristo nos mostrou que é uma necessidade do coração do homem ter amigos. A amizade nos recorda e renova o sentido da vida em Deus e do amor aos homens: amar até o extremo! Dar a vida por eles completamente. “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor... Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.13). Paul Hinnebusch completa em seu livro intitulado, O Ministério da Amizade: “Jesus mostrou-se verdadeiramente nosso amigo, dando sua vida por nós na cruz”. Sabemos que Cristo mostrou-se também nosso amigo revelando-nos todos os segredos do seu coração. “Eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (Jo 15,15). Então é-nos dado, da parte de Deus, o dom da amizade, “a vocação à amizade” como escreveram alguns filósofos e como confirma aqueles que a vivem traduzida nas páginas de tantos escritores contemporâneos.

 

A amizade é um dom de Deus dado a quem ele quer para uma missão na vida dos amigos e na vida dos homens de boa vontade. Diríamos ainda que a amizade é um dom e exerce uma missão particular na vida comunitária. A necessidade da amizade de que nos mostrou Jesus recebe uma particular observação quando se trata da vida comunitária. Ninguém procuraria uma comunidade religiosa se não tivesse certeza de encontrar, entre as suas paredes e na convivência daqueles que dentro delas habitam, pelo menos aquela ternura que poderia se encontrar na família. A vida comunitária comporta uma escolha diária e com muitas renúncias, inclusive no que diz respeito à vida fraterna. Não somos chamados a ser amigos de todos, pois é impossível, mas somos chamados a acolhermos a todos na caridade de Cristo. Como disse nosso tão amado Papa João Paulo II: “Amar em si é uma escola; E a vida comunitária é esse lugar onde melhor se exercita e se aprende a amar”. Giuseppe Colombero diz isso com outras palavras de forma brilhante e profunda: “Não amar e não ser amado é sentir-se ninguém. Sentimos então a mais dolorosa das frustrações: a inutilidade da própria vida. Amor é calor e cor, aquilo que dá um rosto e um sentido às coisas e aos dias, mas é preciso querer esse amor, e querê-lo juntos, um pelo outro, e não apenas dizê-lo ou dissimulá-lo. É preciso viver em comunidade conforme o seu verdadeiro espírito de koinonya”.

 

Para mim tem sido uma grande novidade a convivência com alguns importantes amigos e, posteriormente, a descoberta da amizade, desse fazer parte do coração do amigo. A amizade nunca se faz da noite para o dia, é preciso disposições concretas para trilhar um caminho de acolhida, conhecimento do outro e de si mesmo, capacidade de sair de si para deixarmos que o outro se aproxime e queira livremente partilhar da sua vida, das suas fraquezas, limitações, das alegrias e dos dons com que o Senhor cumulou cada vida. Penso e sinto que isso vem acontecendo conosco, amigo, quando aos poucos vamos participando da vida um do outro nas coisas mais simples, mesmo que tantas vezes seja difícil conseguir um tempo pra sentarmos e conversarmos. A dinâmica da vida comunitária nos coloca diante de desafios que precisam ser superados. Amar implica decisão e coragem de não se deixar levar por tantos obstáculos. Nem todos estão disponíveis para a construção dos laços de amizade, e muitas são as causas que levam a isso que aqui não me compete descrevê-las.

 

Mesmo com as impossibilidades e com todos os desafios que comporta o dom da amizade, Deus vai nos dando a graça da escolha gratuita e a criatividade de darmos provas de amor um ao outro simplesmente sendo nós mesmos. Aprende-se muito com o amigo, mesmo que esteja distante ou próximo. A prende-se muitocom o amigo, exatamente se deixando conduzir e temparar a amizade pelo amor a Deus, a discrição, a alegria, na transparência em ser aquilo que de fato é o nosso coração. O amigo que cultiva os relacionamentos e a arte de ter aprendido que dentro da vida comunitária não nos serve escondermos o que constitui o nosso potencial interior, a nossa verdade, aquilo que Deus mesmo realizou nas nossas vidas. Somos um mistério fascinante mesmo que tenhamos de admitir que a limitação e a fragilidade nos marquem. A amizade acontece mesmo quando é preciso tocar naquele mistério de graças como de misérias presentes no coração de cada um de nós. “Característica da amizade é a certeza de encontrar o imutável no mutável” (Giuseppe Colombero). Recordo-me de uma expressão que tomei conhecimento já à alguns anos atrás: “Quero um amigo com o qual eu tenha, na sua presença, a liberdade de sentir-me fraco, ser diante dele aquilo que realmente eu sou” (Padre João Wilkes, CCSh).

 

Quando nos deparamos com as fragilidades dos nossos irmãos e amigos, costumamos considerar como um desafio, mas nunca ao ponto que nos desestimule. Acho que não é possível explicar o porquê que os irmãos nos escolhem como amigos, pois é Deus mesmo cuidando, protegendo, nos dando a sua misericórdia e nos convidando à santidade. Quando procuramos a amizade não a encontramos, porque a amizade verdadeira não é objeto de procura. Acredito que é Deus mesmo que cuida de despertar em nós todo o potencial humano e, sua graça utiliza-se das nossas capacidades humanas, tais como: a percepção, a intuição, o esvaziamento, humildade e a disposição para sairmos de nós mesmos para acolhermos o dom da vida do nosso irmão. Quando caçamos a amizade ela nos escorre pelos dedos, não a alcançamos porque ela se encontra primeiramente dentro de nós. Reconhecemos, essencialmente, no mais profundo do nosso coração aquela identidade que comunga com quem começa a viver conosco o período de conquista da amizade.

 

Não é possível que a amizade seja autêntica e transparente quando não deixamos que o próprio coração tenha sentido a necessidade de reconhecer o outro como alguém que parece trazer consigo aquelas disposições necessárias para conosco construir uma amizade. É pobreza de coração e de personalidade chamar alguém de amigo quando ainda de fato não o é. Quem acha que amizade é ter pressa em dizer que “somos amigos” e não compreende que ela é um exercício que exige escolha, decisão de amar, cultivo generoso, paciência, fidelidade e transparência, não está mesmo preparado para viver a amizade que atinge a profundidade e a maturidade. As pessoas superficiais costumam evidenciar suas amizades, não para celebrá-las, mas para fugir da sensação de angústia e dor de não terem amigos de verdade, amigos que foram conquistados, cultivados e inseridos no nosso ser mais profundo pelo próprio amor de Deus. Quem não trilha esse caminho constrói amizades vulgares e medíocres, interesseiras e incapazes de permanecerem quando chega o tempo da adversidade. Nessa condição o amigo é amigo enquanto dele sempre consigo extrair, aprender ou ganhar algo que satisfaça as minhas próprias carências.

 

Temos necessidades de amizades verdadeiras que promovam a felicidade mais esplêndida e, pela partilha e comunicação, amenize a adversidade, a dor e a solidão que tantas vezes nos pesa na alma, próprios do caminho da purificação e do amadurecimento da liberdade interior. Descrevo aqui o que o filósofo Cícero escreveu no seu célebre tratado sobre a amizade: “É possível realmente viver a vida sem conhecer a felicidade de encontrar num amigo os mesmos sentimentos? Que haverá de mais doce que poder falar a alguém como falarias a ti mesmo?... Ora, a amizade encerra em si inumeráveis utilidades. Para onde quer que te voltes, lá está ela a teu alcance. Por isso nem o fogo nem a água, como se diz, são usados em tantos lugares quanto à amizade. Eis, pois, que a amizade apresenta vantagens muito numerosas e importantíssimas; mas a que a todas ultrapassa é a de inspirar uma doce confiança no futuro sem permitir que os ânimos desfaleçam ou sucumbam. Assim, quem contempla um amigo verdadeiro contempla como que uma imagem de si mesmo. Eis porque os ausentes se fazem presentes, os pobres se tornam ricos, os fracos ganham robustez e, o que é mais difícil de dizer, os mortos recobram vida: de tanto inspirarem estima, recordação e saudade aos seus amigos. Assim, uns parecem ter encontrado felicidade na morte, outros vivem uma vida digna de louvor”.

 

Alegro-me por ter a liberdade e a segurança de hoje poder ter amigos e amigas, embora compreendendo que a amizade é sempre um caminho de cultivo, doação e provas de amor, ainda que essa prova maior de amor seja a oração. As Sagradas Escrituras nos apresentam amizades que começaram e logo parecem ter atingido a maturidade. Um exemplo concreto e tão fecundo é a experiência da amizade que viveu Jônatan e David, como nos narra o Primeiro livro de Samuel: “Assim que David terminou de falar com Saul, Jônatan se apegou a David e começou a amá-lo tanto quanto a si mesmo” (I Sm 18,1-4). Assim também é possível acreditarmos que tantas amizades chegam a uma comunhão profunda de maneira misteriosamente rápida, e não podemos julgar que todas essas amizades sejam interesseiras ou movidas por sentimentos contrários aos que correspondem com os princípios do amor amizade.

 

Quando começamos a nos relacionar a pretensão do nosso coração não deve ser egoísta, mas deixar que Deus conduza na sua graça o relacionamento, caminhar com o dom da vida do outro na tranquilidade. É nisso que consiste a sabedoria de viver bem o próprio amor fraterno que já nos fez irmãos e participantes da comunhão e do mistério do Carisma Shalom. Aos poucos se vai percebendo que Deus, com a sua providência, vai cuidando de nos aproximarmos mais e sentirmos a necessidade de acolhermos o dom da amizade que desabrocha. Verdadeiramente, bem jovem pode ser uma amizade ou mesmo que se esteja começando agora a trilhar um longo caminho de surpresas, novidades, desafios e purificações, no entanto, a graça de Deus nos é dada para cada circunstância. A amizade não isenta-nos da tentação de sermos guiados pelas nossas vontades e feridas. Este é um risco e um desafio que todos os amigos passam e em todas as fases da amizade. A amizade comporta a necessidade dos amigos estarem lúcidos e com o coração em Deus, seus sentimentos e suas carências afetivas.

 

O ouro da caridade passará pela prova, como nos escreve nossa mãe Maria Emmir no livro “Fio de Ouro”. Ela diz: “O ouro, assim, é esse amor de amizade, que só existe quando é vivido e que é purificado no relacionamento concreto e não em conceitos abstratos. Não existe amor sem riscos. Não existe amizade sem risco. Não existe fé sem riscos, não existe confiança sem riscos”. Ao ver Emmir falar que “não há uma confiança sem riscos” me lembro das palavras da homilia do Cardeal Ratzinger na missa de início pelo conclave, quando cita as duas definições de amizade deixadas por Cristo: “Não há segredos entre amigos: Cristo nos diz tudo o que escuta do Pai; Dá-nos sua plena confiança e, com a confiança também o conhecimento”. A confiança construída sob a caridade é essa a maior segurança que temos no relacionamento da amizade; essa amizade é assim um bem nela mesmo por causa do reflexo do amor de Deus.

 

Não seria possível vivermos todos os riscos que comportam a amizade, sem de fato a vivermos numa dimensão vocacional na nossa vida. É preciso ter “paixão” pelas belezas que Deus colocou para a nossa felicidade. Infelizmente, a trajetória do homem ao longo dos últimos séculos o deixou escravo de si mesmo e dependente do que ele mesmo criou para tornar a vida mais eficiente e qualitativa. Os relacionamentos são os mais atingidos por essa ilusão do homem em “ter, possuir e poder”, de forma que sua vida se asfixia na solidão, na depressão e no isolamento mais cruel que ele possa viver. Como explicar os altos índices de suicídio e loucuras nos países de primeiro mundo? Como explicar o índice crescente da violência no meio da nossa juventude? Como explicar certa indiferença nas causas sociais, o esvaziamento das igrejas, o desencanto pela arte e pela vida social e comunitária? Se falarmos especificamente da vida consagrada, evidenciaremos muitas questões que hoje são preocupantes para aqueles que trabalham a formação na vida religiosa e para todos nós que vivemos a vida fraterna na Comunidade ou na Congregação ou Seminário.

 

Os homens estão isolados embora estejam juntos, por isso agonizam. Querem alguém que os escute ao menos. Gritam no seu silêncio que precisam de irmãos e de amigos, caso contrário, morrerão. Descobrem a cada dia que suas escolhas excluíram os relacionamentos e por isso correm os riscos de perder o mais belo de vida: viver para o outro! Estar com o outro; Eu presente nele; Ele presente em mim; Existir um para o outro e viver a vocação sublime da Caridade fraterna e da amizade para as quais nos criou Trindade. Felizes aqueles que têm amigos! Esta é uma das mais evidentes verdades da vida humana. É tão necessária a amizade como necessário é o ar para respirar! Relacionar-se é uma necessidade vital e uma arte que se aprende. Uma amizade autêntica nos abre a outras e nos capacita a superar obstáculos da vida comunitária. Uma amizade fecunda, livre, aberta aos outros, transparente, cultivada no serviço, na verdade e nos sentimentos de Cristo transforma as nossas vidas e a daqueles que estão ao nosso redor. Transborda na vida comunitária, onde quer que estejamos e gera alegria, convivência, harmonia, santidade. É esse o caminho e os frutos da vocação da amizade em nossas vidas. A vocação é sempre uma resposta livre ao chamado que alguém nos faz. A vida consagrada tem esse “mistério evidente.” Não seguimos uma coisa ou uma idéia, mas uma Pessoa: Jesus Cristo. Temos para com ele uma amizade verdadeira, transparente e livre. É Senhor e amigo ao mesmo tempo. Cristo é o referencial de todo amor humano e divino. Não há amizade segura e vocacionada à eternidade se não tem como fundamento Aquele que sublimou a nossa humanidade e nos deu a possibilidade nova de vivermos relacionamentos novos, santos e duradouros.

 

Isso não significa dizer que estamos prontos para amizade humana, porque na verdade não estamos! Tudo é graça de Deus! Não somos nós que sustentamos a amizade. Ela é primeiramente dom de Deus. Uma semente que é plantada no coração de dois irmãos par que cresça com a descoberta, a escolha, o cultivo e a decisão de amar o outro por ele mesmo, embora sejam eles tão diferentes. Quando vamos conhecendo o amigo, tão logo percebemos nossas semelhanças e aquilo que é comum nos desejos e na maneira de conceber a vida. As diferenças não anulam amizade e nem são obstáculos para que ela se desenvolva em toda a sua potencialidade.

 

O amor será sempre a força e o fundamento, o sentido e a vocação maior da amizade. Mas não esqueçamos que é Deus quem “rega” a semente e a faz crescer com a ajuda da nossa frágil colaboração, mas quando livre e na sua graça, gera muitos frutos que permanecem além do tempo e das fronteiras. 


  Antonio Marcos

       Missionário na Comunidade de Vida Shalom